D. EUSÉBIO OSCAR SCHEID
Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Inicia-se o mês das Missões. A Igreja recebeu do próprio Senhor a vocação missionária, cujo cumprimento é um dos sinais da sua autenticidade, que remonta a Cristo e aos Apóstolos. Os Evangelhos Sinóticos são muito claros, quanto a uma Igreja apostólica e missionária. Sobre isto, vejam-se as instruções de Jesus aos Apóstolos (cf. Mt 10), a missão dos 72 discípulos (cf. Lc 10,1-20) e o mandato missionário (cf. Mt 28,18-20).
Jesus convoca os seus escolhidos e os prepara. Após uma noite de oração, chamou os 12 primeiros, que receberam o título de Apóstolos, palavra de origem grega que significa enviados. Todos foram testemunhas e colunas da Igreja nascente, exceto Judas Iscariotes, o traidor, substituído por São Matias. Escolheu, também, outros 72, que preparou para evangelizarem as regiões da Judéia, da Galiléia e da Samaria. Essa preparação durou, aproximadamente, 3 anos, durante os quais Jesus lhes falou de sua obra e lhes mostrou as ações que deveriam realizar.
Jesus garantiu aos seus enviados os benefícios messiânicos: "Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai" (Mt 10,8). Tornou-os portadores da paz: "Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa. Se aquela casa for digna, descerá sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós" (Mt 10,12-13).
Aconselhou-os, freqüentemente, a não ter medo de anunciar o Evangelho às multidões: "Não os temais, pois, porque nada há de escondido que não venha à luz, nada de secreto que não se venha a saber. Quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus" (Mt 10,26.32).
Para realizar tudo isso, assegurou-lhes o dom do seu Espírito, que infunde a confiança diante das preocupações, a segurança de que não estamos sós e a certeza de proferir a palavra oportuna: "Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós" (Mt 10,20).
Essa escola de 3 anos foi definitiva na vida dos Apóstolos e dos 72 discípulos. Sua missão começou, justamente, a partir do ápice da missão do próprio Cristo. Foram enviados após a sua Ressurreição, e um pouco antes de Ele subir ao Pai, pela Ascensão gloriosa. Dessa fonte pascal brotam a novidade do anúncio do Cristo Ressuscitado e a fortaleza para o testemunho, e nela abebera-se a missão.
"Ide, pois, e ensinai a todas as nações" (Mt 28,19). Assim se resume o método que Jesus usava: não ficar esperando que o povo viesse ao seu encontro, mas tomar a iniciativa de ir até ele. Hoje, procuramos reproduzir isto através do Ministério da Visitação, que abre caminhos para a Missão Popular, ou seja, a missão junto àqueles que já acreditam em Cristo, mas ainda não têm uma fé mais aprofundada e segura, ou junto aos que se afastaram.
Para se anunciar a novidade de Cristo, é preciso passar pelo Mistério da Cruz: "Quem não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim" (Mt 10,38). Esta verdade não é fácil de aceitar, mas Deus nos dá sua graça, o auxílio extraordinário que nos capacita a levar nossa cruz diária, imposta pelas circunstâncias inevitáveis que, às vezes, nos fazem cair. Assim, temos a certeza de que não estamos sós. Jesus está conosco, animando-nos, encorajando-nos: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28,20). Somos os ecos do Espírito Santo, que fala por nós e em nós, para anunciar a Verdade eterna, que é o próprio Cristo.
Qual é o conteúdo do anúncio missionário? Em primeiro lugar, "anunciai que o Reino dos céus está próximo" (Mt 10,7) - Reino de paz, de justiça, de amor, de caridade, de docilidade à voz do Senhor, Reino em que se cumpre a sua Vontade. Depois, fala-se do Mistério de Deus. "Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou" (Jo 1,18). Esse conhecimento de Deus é que falta a muitas pessoas. Por isso, vamos em missão, vamos em visitação, levando o Evangelho, levando o ardor da nossa própria fé, o ardor do nosso espírito missionário, em gratidão por termos sido, um dia, missionados por outros, que falaram em nome do Cristo Senhor e da sua Igreja.
A missão também quer falar ao homem sobre ele mesmo. O Concílio Vaticano II ensina que o mistério do homem só se tornou claro quando Cristo se encarnou, porque Ele mostrou a dignidade do ser humano, ensinou o respeito aos valores fundamentais, enfim, tudo o que de nobre deve ser objeto dos pensamentos e ações da pessoa humana. Conhecendo o ser humano, entramos no seu mistério e aprendemos o quanto significa, para cada um de nós, estar próximo a Deus.
Além disso, Jesus Cristo sublinhou o valor da amizade: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15,13). Não damos, necessariamente, a vida de uma vez só, mas aos poucos, na entrega, na delicadeza, na ajuda mútua, na comunhão dos bens, quando isso se torna possível e necessário.
Outro conteúdo do anúncio missionário é a oração. Não se trata, apenas, de ensinar os outros a rezar, mas de rezar com eles, como tão bem fazem os irmãos vicentinos, por exemplo. Eles não levam só o auxílio material, mas levam a presença, rezam, enaltecem e louvam a Deus com a pessoa que é assistida.
O missionário deve, sobretudo, ter a certeza de repetir as atitudes do próprio Cristo. Ele nos deixou certos atos salvíficos, os Sacramentos, que instituiu como fontes normais de graça, que nos transformam, nos santificam e nos fazem crescer na ordem da nossa própria salvação. Em resumo, nossa vida, nossos relacionamentos, nossas atividades devem testemunhar, a cada momento, a novidade que Cristo veio trazer à terra.
Os destinatários da missão hão de ser todos os homens e mulheres do nosso tempo, a começar pelos que fazem parte do círculo de relacionamento de cada um de nós: "Ide primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10,6). Entretanto, o anúncio deve se abrir a todos. Reporto-me aos Atos dos Apóstolos: "Paulo e Barnabé disseram-lhes resolutamente: "Era a vós que, em primeiro lugar, se devia anunciar a palavra de Deus. Eis que, agora, nos voltamos para os pagãos, porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te estabeleci para seres luz das nações, e levares a salvação até os confins da terra (Is 49,6)"" (At 13,46-47).
A própria criação deve ser atingida pelo anúncio da salvação. Embora a beleza das criaturas, a ordem do micro e do macrocosmos e a riqueza dos ecossistemas nos falem do Criador, "a criação foi sujeita à vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a sujeitou), todavia com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus" (Rm 8,20-21). Ela, ansiosamente, espera que a impregnemos da santidade que Deus coloca em nós, pela presença do Espírito Santo. Assim, consagramos a Deus todo o universo, que anseia por esse momento de plenificação, quando tudo se consumar em Cristo.
Arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro
Inicia-se o mês das Missões. A Igreja recebeu do próprio Senhor a vocação missionária, cujo cumprimento é um dos sinais da sua autenticidade, que remonta a Cristo e aos Apóstolos. Os Evangelhos Sinóticos são muito claros, quanto a uma Igreja apostólica e missionária. Sobre isto, vejam-se as instruções de Jesus aos Apóstolos (cf. Mt 10), a missão dos 72 discípulos (cf. Lc 10,1-20) e o mandato missionário (cf. Mt 28,18-20).
Jesus convoca os seus escolhidos e os prepara. Após uma noite de oração, chamou os 12 primeiros, que receberam o título de Apóstolos, palavra de origem grega que significa enviados. Todos foram testemunhas e colunas da Igreja nascente, exceto Judas Iscariotes, o traidor, substituído por São Matias. Escolheu, também, outros 72, que preparou para evangelizarem as regiões da Judéia, da Galiléia e da Samaria. Essa preparação durou, aproximadamente, 3 anos, durante os quais Jesus lhes falou de sua obra e lhes mostrou as ações que deveriam realizar.
Jesus garantiu aos seus enviados os benefícios messiânicos: "Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai" (Mt 10,8). Tornou-os portadores da paz: "Entrando numa casa, saudai-a: Paz a esta casa. Se aquela casa for digna, descerá sobre ela a vossa paz; se, porém, não o for, vosso voto de paz retornará a vós" (Mt 10,12-13).
Aconselhou-os, freqüentemente, a não ter medo de anunciar o Evangelho às multidões: "Não os temais, pois, porque nada há de escondido que não venha à luz, nada de secreto que não se venha a saber. Quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus" (Mt 10,26.32).
Para realizar tudo isso, assegurou-lhes o dom do seu Espírito, que infunde a confiança diante das preocupações, a segurança de que não estamos sós e a certeza de proferir a palavra oportuna: "Porque não sereis vós que falareis, mas é o Espírito de vosso Pai que falará em vós" (Mt 10,20).
Essa escola de 3 anos foi definitiva na vida dos Apóstolos e dos 72 discípulos. Sua missão começou, justamente, a partir do ápice da missão do próprio Cristo. Foram enviados após a sua Ressurreição, e um pouco antes de Ele subir ao Pai, pela Ascensão gloriosa. Dessa fonte pascal brotam a novidade do anúncio do Cristo Ressuscitado e a fortaleza para o testemunho, e nela abebera-se a missão.
"Ide, pois, e ensinai a todas as nações" (Mt 28,19). Assim se resume o método que Jesus usava: não ficar esperando que o povo viesse ao seu encontro, mas tomar a iniciativa de ir até ele. Hoje, procuramos reproduzir isto através do Ministério da Visitação, que abre caminhos para a Missão Popular, ou seja, a missão junto àqueles que já acreditam em Cristo, mas ainda não têm uma fé mais aprofundada e segura, ou junto aos que se afastaram.
Para se anunciar a novidade de Cristo, é preciso passar pelo Mistério da Cruz: "Quem não toma a sua cruz e não me segue não é digno de mim" (Mt 10,38). Esta verdade não é fácil de aceitar, mas Deus nos dá sua graça, o auxílio extraordinário que nos capacita a levar nossa cruz diária, imposta pelas circunstâncias inevitáveis que, às vezes, nos fazem cair. Assim, temos a certeza de que não estamos sós. Jesus está conosco, animando-nos, encorajando-nos: "Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo" (Mt 28,20). Somos os ecos do Espírito Santo, que fala por nós e em nós, para anunciar a Verdade eterna, que é o próprio Cristo.
Qual é o conteúdo do anúncio missionário? Em primeiro lugar, "anunciai que o Reino dos céus está próximo" (Mt 10,7) - Reino de paz, de justiça, de amor, de caridade, de docilidade à voz do Senhor, Reino em que se cumpre a sua Vontade. Depois, fala-se do Mistério de Deus. "Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, foi quem o revelou" (Jo 1,18). Esse conhecimento de Deus é que falta a muitas pessoas. Por isso, vamos em missão, vamos em visitação, levando o Evangelho, levando o ardor da nossa própria fé, o ardor do nosso espírito missionário, em gratidão por termos sido, um dia, missionados por outros, que falaram em nome do Cristo Senhor e da sua Igreja.
A missão também quer falar ao homem sobre ele mesmo. O Concílio Vaticano II ensina que o mistério do homem só se tornou claro quando Cristo se encarnou, porque Ele mostrou a dignidade do ser humano, ensinou o respeito aos valores fundamentais, enfim, tudo o que de nobre deve ser objeto dos pensamentos e ações da pessoa humana. Conhecendo o ser humano, entramos no seu mistério e aprendemos o quanto significa, para cada um de nós, estar próximo a Deus.
Além disso, Jesus Cristo sublinhou o valor da amizade: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" (Jo 15,13). Não damos, necessariamente, a vida de uma vez só, mas aos poucos, na entrega, na delicadeza, na ajuda mútua, na comunhão dos bens, quando isso se torna possível e necessário.
Outro conteúdo do anúncio missionário é a oração. Não se trata, apenas, de ensinar os outros a rezar, mas de rezar com eles, como tão bem fazem os irmãos vicentinos, por exemplo. Eles não levam só o auxílio material, mas levam a presença, rezam, enaltecem e louvam a Deus com a pessoa que é assistida.
O missionário deve, sobretudo, ter a certeza de repetir as atitudes do próprio Cristo. Ele nos deixou certos atos salvíficos, os Sacramentos, que instituiu como fontes normais de graça, que nos transformam, nos santificam e nos fazem crescer na ordem da nossa própria salvação. Em resumo, nossa vida, nossos relacionamentos, nossas atividades devem testemunhar, a cada momento, a novidade que Cristo veio trazer à terra.
Os destinatários da missão hão de ser todos os homens e mulheres do nosso tempo, a começar pelos que fazem parte do círculo de relacionamento de cada um de nós: "Ide primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mt 10,6). Entretanto, o anúncio deve se abrir a todos. Reporto-me aos Atos dos Apóstolos: "Paulo e Barnabé disseram-lhes resolutamente: "Era a vós que, em primeiro lugar, se devia anunciar a palavra de Deus. Eis que, agora, nos voltamos para os pagãos, porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te estabeleci para seres luz das nações, e levares a salvação até os confins da terra (Is 49,6)"" (At 13,46-47).
A própria criação deve ser atingida pelo anúncio da salvação. Embora a beleza das criaturas, a ordem do micro e do macrocosmos e a riqueza dos ecossistemas nos falem do Criador, "a criação foi sujeita à vaidade (não voluntariamente, mas por vontade daquele que a sujeitou), todavia com a esperança de ser também ela libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus" (Rm 8,20-21). Ela, ansiosamente, espera que a impregnemos da santidade que Deus coloca em nós, pela presença do Espírito Santo. Assim, consagramos a Deus todo o universo, que anseia por esse momento de plenificação, quando tudo se consumar em Cristo.
Fonte: CNBB